Má-língua…


A Noite da Má Língua
era um programa semanal, emitido entre 1994 e 1997, e que recentemente foi retomado em formato podcast. Nas noites de quinta-feira, Júlia Pinheiro conduzia um painel de quatro comentadores que, entre críticas e mal dizer, falavam da atualidade – especialmente a nacional – e elegiam a personalidade (ou as personalidades) digna(s) do Prémio da Má Língua. Terminar uma edição que tem como tema principal “Em Bom Português”, e lembra o Dia Internacional da Língua Materna, a falar de má-língua pode parecer um antagonismo…. Ou até um pouco de sarcasmo… Mas, não é. Pensem comigo…

Um dos problemas cada vez mais evidentes é a falta de conhecimento da língua portuguesa, em coisas elementares e palavras comuns. Expressões mal-usadas, deturpadas, que por aparecerem tantas vezes diante dos nossos olhos e ouvidos podem, a certo ponto, parecer que deixam de ser erradas. Exemplos: “Há-des ir ao médico… Há 10 anos atraz… Vou casa de banho… Tu dissestes isso?... O que foi ouvisto hoje…És benvindo” Repete-se, repete-se, repete-se… e em pouco tempo um erro torna-se certo na nossa mente – independentemente das (desconhecidas) regras da gramática.

O mesmo se passa com a Palavra de Deus. Quando há um desconhecimento dos contextos e se interpreta à lá carte aquilo que Deus deseja que o ser humano descubra, induzimos em erro os outros… tiramos versículos do contexto e isso gera um pretexto. Ou dizemos que a Bíblia diz algo que… não está lá.

Exemplos… “Palavra de Deus é nova a cada manhã” não está escrito em nenhum lado da Bíblia. Está, sim, que as misericórdias do Senhor se removam a cada manhã (e leia-se o contexto em Lamentações de Jeremias 3). Se a Palavra de Deus fosse diferente todos dos dias, onde estaria a nossa segurança? “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”, fora do seu contexto gera uma série de pressupostos que nada têm a ver com a realidade das afirmações de Paulo à igreja em Filipos. Ele explica que quer nas circunstâncias adversas, quer nas favoráveis, Deus ajuda-o, é a fonte da sua força… e acrescenta um elogio de seguida aos crentes daquela igreja que o tinham ajudado nas dificuldades. Nada de super-Paulo! Dúvidas? Leia-se Filipenses 4. Finalmente (porque o espaço é curto) “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” Se eu for salva, a minha família tem salvação garantida? Parece…, mas não! Paulo afirma isto em Filipos, ao carcereiro que, depois de ver o milagre do livramento de Paulo e dos outros prisioneiros, foi chamado para não terminar com a sua vida e pediu ajuda ao apóstolo… então, depois do carcereiro e a sua família ouvirem o Evangelho, decidiram seguir Jesus e foram batizados (ele e a sua casa!). Atos 16, tem a história completa.

Precisamos, então, de estudar a Palavra de Deus, no seu contexto, para podermos avaliar o que escutamos… porque também um ensino falso, por má interpretação, depois de repetido muitas vezes pode aparentar ser verdadeiro quando, de facto, não o é…

E sobre a maledicência e a língua, termino com as palavras bem afiadas e cirúrgicas do frontal Tiago. “Pois também a língua é como um fogo. Ela é mesmo um mundo de injustiça e é capaz de contaminar todo o nosso ser. Alimentada com o fogo do inferno, é capaz de inflamar a nossa existência. Toda a espécie de animais se podem subjugar: animais ferozes, répteis, aves e até peixes; todos se podem domar. Mas ninguém consegue dominar a sua língua. É um mal que não se pode controlar. Está sempre pronta a expelir veneno mortal. Com ela damos louvores ao Senhor, nosso Pai, e outras vezes dizemos as piores coisas contra os homens, que são feitos à semelhança de Deus. Assim, a mesma boca emite bênçãos e roga pragas. Meus irmãos, não está certo que seja assim.” (Tiago 3:6-10, OL)

Ana R. Rosa 

in Novas de Alegria, fevereiro 2022

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