Preparados? Sim… e não.

Ninguém pode negar que a morte nos afeta. Desde que nascemos… E não estou a simplificar aquilo que é complexo! Fomos criados para a vida, mas nascemos para morrer. Um paradoxo? Talvez. Sim, a morte é contrária à criação, mas é o produto e a consequência da nossa decisão de independência do Criador - da nossa rebeldia e desobediência. Criação = Vida. Pecado = Morte.


Quando escrevo estas palavras, lembro o texto que li há uns meses de um amigo que é uma referência para mim: “Este ano já morreram mais de 58 milhões de pessoas quando estou a escrever estas linhas. A morte bate a todas as portas sem aviso. Normalmente as pessoas não lhe prestam nenhuma atenção e isso pode representar o pior desaire e frustração da vida humana. Há que preparar a nossa morte com antecedência, desde já.”1

Esse amigo enfrentava as dores e dissabores da queda da Humanidade, no seu corpo. Mas esse mesmo amigo, teve a sua fé reforçada e revigorada a cada dia que passava – e animou a fé dos que o rodeavam, enquanto pôde. Mesmo na “sala de espera” e lidando com o sofrimento, os possíveis lamentos eram traspassados pela alegria interior que só Deus pode dar, proveniente da sua esperança - de estar em breve com o Seu Salvador, Senhor, Amigo e Irmão mais velho, Jesus Cristo.

Defensor da fé? Sim…, mas muito mais do que isso. Um exemplo de vivência e partilha dessa fé nos meios por onde passou, não apenas na TV, na rádio, na imprensa ou na literatura. Para ele (e muito bem!) tudo o que fazia era em serviço a Deus – não apenas num púlpito, numa sala de aula, mas no cuidado pela sua família e pelos domésticos da fé. Quem o conhecia de perto, sabia que continuava a passar aos outros que SÓ JESUS nos dá esperança. E SÓ JESUS foi o título do último livro que editou, e cuja mensagem espalhou por onde pode. Porque, como me disse a certa altura: “É isto que faz falta. É partilhar a fé…”.

Nestes mais de 20 anos que nos conhecemos e mais de 15 em que servimos lado a lado, destaco a sua humildade e humanidade. A sensibilidade, o trato, o respeito. A frontalidade, mas também o estímulo, o cuidado. Discordando com amor, trabalhando para a mesma finalidade – a glória de Deus.

Nos últimos meses de 2022, terminávamos os nossos “encontros telefónicos” com boa disposição. Quem nos ouvisse pensaria que estaríamos os dois de perfeita saúde e com a vida a correr às mil maravilhas… a razão da sua aparente leveza, apesar do peso da dor física? As suas palavras exprimem o porquê! “Aqui reside a verdadeira diferença da morte a que cada um de nós está condenado. Não está no aparato exterior das cerimónias fúnebres, não está sequer se existe ou não uma cerimónia religiosa; mas reside radicalmente, única e exclusivamente na fé genuína em JESUS que nos projeta para lá dessa ínfima viagem entre a Terra e o Céu. Fechar os olhos aqui e abri-los do lá de lá nas moradas que JESUS foi preparar. (…) Em e por JESUS somos filhos de Deus, vivemos para a Sua glória e vamos a caminho de uma morada eterna, a nossa verdadeira pátria, que Ele nos foi preparar. Em JESUS, Deus torna-Se o ‘Pai nosso’, Abba Pai – Paizinho querido.”1

Já sinto saudades. Até já, Samuel!

“Toda a honra seja dada a Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois foi a sua grande misericórdia que nos fez nascer de novo para uma esperança viva, pela ressurreição de Cristo de entre os mortos, para a posse da herança que Deus vos reservou nos céus, que não poderá nem alterar-se, nem deteriorar-se, nem desaparecer.” (1 Pedro 1:3-4, OL)

 

Ana R. Rosa

 

1 PINHEIRO, Samuel R., “Contrastes”, Novas de Alegria, dezembro 2022, Lisboa, pp. 32-33.

 Foto: Eduardo Gageiro


Texto originalmente publicado na revista  Novas de Alegria, maio de 2023

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