Birras, fraldas e leitinho



Ter um filho pré-pré-pré-adolescente é uma experiência fantástica (uma palavra que agora anda na moda!), mas que por vezes contrasta com aquela bela deixa “mãe à beira de um ataque de nervos” (expressão menos em voga, claro está!). 

Todas as crianças têm a sua personalidade. Algumas mais vincadas do que outras, mas todas (mais ou menos, e em ocasiões diferentes) têm aquela dificuldade em ser contrariadas e, por consequência, fazerem birra. O que é menos normal acontecer com adultos… pelo menos, é suposto. Ao amadurecermos, desenvolvemos mecanismos para lidar com as contrariedades da vida. Há dificuldades e situações limite, mas para as coisas que ocorrem no dia a dia que são pequenos contratempos, é estranho fazer-se birra, não é?


Como cristãos, seguidores de Jesus, é suposto também crescermos, ganharmos maturidade. Deus usa várias formas para que tal aconteça. No Novo Testamento temos um alerta para casos em que isso não aconteceu. O escritor da carta aos Hebreus fala de crentes que queriam continuar a ser “levados ao colo”. Pessoas que tinham anos de igreja, mas que não queriam crescer. Em vez de serem maduros o suficiente para ajudar outros a caminhar na fé ainda estavam na época das birras, das fraldas e do leitinho… “Porque ao tempo que são cristãos deviam até poder já ensinar outros. Mas ao contrário precisam de quem vos ensine as primeiras coisas da revelação de Deus. Vocês fizeram-se como criancinhas que só podem beber leite, e não alimento sólido. Ora, quando uma pessoa ainda se alimenta só de leite, é como um bebé e ainda não está capaz de ter experiência de coisas que a justiça de Deus exige. Mas o alimento sólido é para os que adquiriram maturidade, e que em resultado do exercício das suas faculdades são capazes de distinguir o bem do mal.” (Hebreus 5:12-14, OL)

Paulo deixou o aviso a Timóteo no sentido de ajudar os seus irmãos na fé a terem uma alimentação espiritual saudável para um crescimento são. “Por isso, insisto solenemente, diante de Deus e Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, quando vier outra vez para estabelecer o seu reino aqui na Terra: que anuncies a palavra de Deus; que insistas nessa pregação, não só nas ocasiões consagradas, mas também fora delas; que corrijas e repreendas, que encorajes com toda a paciência os que são fracos, dando-lhes o ensino de que necessitam. Porque há de vir uma época em que as pessoas não hão de querer mais ouvir a sã doutrina e procurarão rodear-se de mestres que lhes ensinarão apenas aquilo que vai de encontro aos seus desejos e que seja agradável aos seus ouvidos. Recusando-se a ouvir a verdade, voltarão a seguir tradições supersticiosas.” (2 Timóteo 4:1-4, OL)

Paulo não aconselha Timóteo a pregar o que as pessoas querem ouvir, nem como querem ouvir, mas a não parar de partilhar nas mais variadas circunstâncias a sã doutrina. Parece que os dois textos estão ligados… e estão de facto, inspirados pelo Espírito Santo, para nosso aviso. Hoje, cada vez mais, procura-se o superficial, emocional e egocêntrico, em vez do profundo, equilibrado e Teocêntrico. E, na verdade, se não temos cuidado (porque somos de carne e osso) podemos cair no facilitismo… que Deus me ajude, nos ajude, a realmente sermos maduros, e que essa maturidade seja visível em “fruto do bom” – fruto do Espírito, resultado do Seu trabalho na nossa vida – levando outros a entrar no Caminho de Deus.

Ana Ramalho Rosa


in Novas de Alegria, maio 2020

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